Fuçar

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Em uma triste manhã de segunda . . .




Era um dia comum. Era manhã. Fazia sol.

Logo a frente uma pessoa diferente. Era estranha. Parecia feliz.

Achei estranho que logo pela manhã uma pessoa pudesse estar feliz. Mas estava.

Até a roupa era colorida. Senti inveja.

Notei que no trem as pessoas estavam todas descontentes, como eu, é claro.

Toda a situação logo transformou o trem em um tribunal.

Tornamos-nos testemunhas, júri, juiz e carrasco. Só não existia ali “adevogado”.

ACUSAÇÃO: FELICIDADE FORA DE HORA.

Indagamos o réu quanto ao motivo. Respondeu: A vida.

Protesto, gritou o promotor. Vida não é motivo para felicidade, concluiu.

O juiz olhou para o réu e com um suave movimento de cabeça, consentiu com a promotoria. Prossiga, disse o motorista (digo, o juiz).

O promotor repetiu a pergunta indagando-o sobre o motivo da felicidade.

Respondeu ele: Meu nome é Pedro, tenho 33 anos, bem empregado, saudável, livre e tenho um marido que eu amo! Tudo o que preciso. Muito obrigado!

Por alguns momentos o tribunal se calou (metade do júri já havia decidido).

Gay? Perguntou friamente o promotor.

Sim! Respondeu firmemente o réu.

O promotor olhou para o júri, para as testemunhas, e finalmente para o juiz. Que com um sussurro respondeu: Lavo as mãos!

Veio a decisão do júri:

“Em épocas como a nossa, em que tantos problemas nos afligem. É simplesmente inaceitável que ainda tenhamos que nos preocupar com tais comportamentos. Espera-se que nos dias de hoje, após tudo que vivemos. Que os seres humanos tenham o mínimo de decência e não expressem suas vontades pessoais e seus sentimentos mais sinceros. Pois estes, como comprovado no passado, vão contra tudo o que prega e acredita nossa querida e idolatrada pátria e nossa mãe igreja. Atrapalhando assim, a ordem e o progresso, tão estimados por nós. É fato. Somos todos chatos, reprimidos e descontentes. Esperamos que ninguém tente ser diferente. O júri condena o réu a morte. Que a decisão sirva de exemplo a outros. E que Deus abençoe os Estados Unidos do Brasil.”

O réu, cercado pelos carteiros e empresários (digo, carrascos), foi agarrado e imobilizado. E, logo depois atirado para fora do trem em movimento.

Agora todos aos seus lugares, calados. De volta a vida normal.

E em cada boca, um tímido sorriso.

Pois é claro, todos tem direito a um pouco de felicidade logo pela manhã.



Ps: Quero muito acreditar que tudo isso é fruto da minha imaginação.

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